Ana Carolina de Oliveira Neves. 2007. Plasticidade morfológica, alometria e dinâmica populacional de Echinodorus paniculatus Micheli (Alismataceae) em resposta ao regime de cheia e seca do Pantanal, sub-regiões do Miranda e Abobral. Resumo: Em locais inundados, o nível d’água é um dos mais importantes fatores, se não o principal, influenciando na composição, zonação e processos das comunidades vegetais. As variações do nível d’água provocam mudanças no ambiente, que vão desde a redução da oxigenação e da luminosidade, até alterações na composição da comunidade, incluindo mudanças nas características dos sedimentos, na velocidade d’água e na exposição a ventos e ondas, que em última instância afetam as taxas de fotossíntese. As macrófitas aquáticas são um dos grupos com maior plasticidade fenotípica. Desenvolveram várias adaptações para sobreviver em ambientes sazonais, as quais são refletidas na sua dinâmica populacional. Echinodorus paniculatus, popularmente conhecida como chapéu-de-couro-folha-fina, é uma macrófita emergente com estratégias de propagação mixtas (sexuada, por brotamentos de rizomas e por pseudoviviparidade), comum em lagoas rasas ou temporárias no Pantanal. As inundações na planície ocorrem anualmente no verão, sendo seguidas por meses de seca, embora também ocorram flutuações plurianuais, que produzem períodos prolongados de fortes secas e inundações. Nesse trabalho analisamos as respostas de E. paniculatus às variações espaciais e temporais do nível d’água, com relação à plasticidade morfológica, distribuição fracionária de energia, alometria, dinâmica populacional baseada na altura das rosetas e estrutura espacial. Nossos resultados indicam a existência de rosetas com dois tipos de arquitetura, vivendo em ambientes com diferentes condições de inundação. Em locais secos, as plantas têm pecíolos curtos, tendência a apresentar limbos foliares menores, grande quantidade de matéria orgânica morta acumulada em uma roseta basal seca, florescendo tardiamente com relação às plantas de locais inundados. Nestes as rosetas têm quantidade de hastes semelhante às rosetas de locais secos, mas têm pecíolos mais compridos, folhas emergentes na estação cheia, limbos foliares maiores e possivelmente mais finos, e pouca biomassa morta acumulada. Ao longo do tempo, a forma das plantas de locais secos e inundados pode se modificar, com as áreas foliares se igualando do meio até o final da cheia, e eventualmente, sem seguir um padrão, o comprimento dos pecíolos pode se assemelhar. Como consequência das variações na forma das rosetas, a cada mês, e em locais inundados ou secos num mesmo momento, diferentes equações são necessárias para estimar a biomassa das plantas. O nascimento de rosetas por sementes ou brotamentos de rizomas se dá em solo úmido, geralmente no início da cheia, quando são observadas as maiores densidades populacionais. Em locais inundados a densidade diminui bastante e os pecíolos se alongam, permanecendo erguidos devido à capacidade de flutuação do aerênquima, mantendo as folhas emersas. Nessa época, surgem rametes pseudo-vivíparos nas inflorescências. Após um período passível de dispersão, na cheia, os rametes pseudovivíparos provavelmente se estabelecem na vazante. Em locais muito secos as densidades populacionais são baixas, as porções aéreas das rosetas morrem e elas permanecem na forma de rizomas subterrâneos, que rebrotam com a chegada das chuvas. O padrão espacial das populações não foi determinado pelo nível d’água em pequena escala, embora em uma escala maior, sua ocorrência seja associada a locais temporariamente sujeitos à inundação. |