Santos, F.A.M. dos. 1990. Ecologia de populações de espécies arbóreas de cerrado: padrão espacial de jovens em relação a adultos. Resumos do VIII Congresso da Sociedade Botânica de São Paulo (SBSP), p. 44-45.

Resumo: Embora ocupe cerca de 25% do território nacional e seja uma das formações brasileiras mais estudadas, pouco se conhece sobre o comportamento de populações de espécies de cerrado. A maioria dos estudos envolvendo a vegetação dessas áreas tem como objetivo a descrição florística e fitossociológica da comunidade, principalmente das plantas arbóreo-arbustivas, a comparação com outros ambientes ou com outras áreas de cerrado e o estudo fisiológico ou ecofisiológico de algumas espécies. Entretanto, as características ligadas à estrutura e organização da comunidade não são estáticas, já que os padrões de abundância e distribuição de indivíduos adultos das diferentes espécies estão diretamente relacionados com os padrões de dispersão de sementes e de estabelecimento e sobrevivência dos indivíduos até a maturidade, resultando em diferentes padrões de regeneração dessas populações. Dessa forma, a distribuição espacial de plantas maduras, reflete o padrão espacial de recrutamento e a influência dos fatores de mortalidade, os quais diferem de intensidade de lugar para lugar. Sendo assim, torna-se importante a compreensão do comportamento de populações e dos fatores que limitam a sua densidade e distribuição. A maior parte dos estudos sobre dispersão de sementes tem mostrado uma distribuição leptocúrtica destas, com uma alta densidade de sementes perto da planta parental e uma grande redução numérica com o aumento da distância da fonte de sementes. Por outro lado, vários estudos têm mostrado que a sobrevivência de propágulos até a maturidade pode ser afetada pela densidade, pela distância de plantas adultas, pela interação com outras espécies de plantas e pelo efeito de predadores de sementes e/ou plântulas. O presente estudo tem como objetivo identificar padrões de distribuição espacial de indivíduos jovens em relação a adultos de espécies arbóreas que ocorrem em áreas de cerrado no estado de São Paulo, SE Brasil, e analisar os resultados obtidos em termos dos padrões de recrutamento de indivíduos na população. As espécies escolhidas para o estudo, até o momento, foram Copaifera langsdorffii Desv. (Caesalpinioideae), Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. (Mimosoideae) e Xylopia aromatica (Lam.) Mart. (Annonaceae). O primeiro problema surgido é que a maioria dos estudos feitos nesse sentido, tratam de espécies raras, onde há poucas dúvidas sobre a origem da prole. Neste caso, as espécies escolhidas são bastante comuns nas áreas de estudo e, para tanto, precisa-se incluir uma premissa que possibilite o estudo. A premissa assumida é que, considerando-se uma espécie, o efeito da distância de qualquer adulto sobre os indivíduos jovens é o mesmo, independente de quem seja a planta parental. Essa premissa tem suas limitações dentro da teoria e dos modelos propostos sobre padrões de regeneração, pois não considera o efeito genético envolvido nas probabilidades de sobrevivência e escape da prole. Por outro lado, se considerarmos queestamos lidando com espécies de fecundação cruzada e altamente abundantes, tal problema provavelmente é amenizado. De qualquer forma, tal premissa é testável e torna o estudo possível, embora se reconheçam as suas limitações. Os dados vêm sendo obtidos utilizando-se parcelas circulares de 10m de raio em torno de um indivíduo adulto da espécie em questão (com exceção dos estudo marcados abaixo com (*), onde foi utilizado um raio de 6m). Todos os indivíduos não adultos no interior da parcela são amostrados. Para cada indivíduo são registradas a altura e a distância ao adulto mais próximo. Esses dados vêm sendo obtidos em diversas áreas de cerrado do estado de São Paulo, nos meses de fevereiro/março, com a participação de vários pesquisadores e de alunos da disciplina Ecologia de Campo II do PPG Ecologia da UNICAMP. Abaixo segue uma lista das áreas, anos, espécies e co-autores dos estudos desenvolvidos até o momento. Moji-Guaçu, 1986 – Copaifera e Anadenanthera (I.C.S. Machado, A.T. Oliveira Filho e C.P. Ferreira)*; Luís Antônio, 1987 – Copaifera; Assis, 1988 – Xylopia (J. Marinho Filho e R.M.C. Okano)*, Copaifera e Anadenanthera; Itirapina, 1989 – Copaifera e Anadenanthera; Itirapina, 1990 – Xylopia e Anadenanthera. Além disso, vem sendo feito um acompanhamento desde 1988, na Reserva Biológica e Estação Experimental de Moji-Guaçu, em 5 parcelas de Copaifera e 5 de Anadenanthera, perfazendo um total de mais de 2000 indivíduos marcados e mapeados. Os dados obtidos até o momento, parecem indicar que: 1. a densidade de adultos parece não ter uma influência simples e direta na densidade de jovens; 2. as curvas de sobrevivência não apresentam diferenças significativas quanto a mortalidade de jovens (inclinação das curvas) em diferentes classes de distância a adultos. Os resultados sugerem que a probabilidade de sobrevivência de jovens é independente da densidade e da distância aos adultos, a menos que a mortalidade seja dependente desses fatores em estádios anteriores aos amostrados (principalmente sementes), ou que a ação desses fatores em conjunto resultem em padrões de mortalidade mais complexos.