BIODIVERSIDADE DE INTERAÇÕES ENTRE VERTEBRADOS FRUGÍVOROS E PLANTAS DA MATA ATLÂNTICA DO SUDESTE DO BRASIL

Auxílio FAPESP 98/05090-6

RESUMO

As interações mutualísticas entre as angiospermas e os vertebrados frugívoros atingiram seu clímax nas florestas tropicais, onde muitas espécies de aves e mamíferos contribuem com sucesso para a dispersão de sementes de várias famílias de plantas. Especialmente nos neotrópicos, os frugívoros representam um componente significativo, porém bastante frágil, da biomassa total de vertebrados, sendo fortemente afetados pela fragmentação ou deterioração de seu habitat, o que provoca consequências imprevisíveis para as plantas que dispersam.

Tradicionalmente, os estudos de biodiversidade apoiam-se em inventários de animais e plantas de uma determinada localidade, porém com enfoque reduzido ou mesmo ausente sobre a estrutura trófica que interliga os diferentes taxa, a qual vai determinar a manutenção da heterogeneidade espacial e diversidade taxonômica nas florestas tropicais.

O objetivo específico deste projeto é avaliar e monitorar a biodiversidade das interações entre angiospermas e vertebrados frugívoros, nos seus aspectos qualitativo e quantitativo, bem como investigar os principais padrões ecológicos e evolutivos que regulam as associações mutualísticas nessas comunidades. Esta abordagem metodológica está integrada aos objetivos gerais do programa especial de pesquisa "Conservação e uso sustentável da biodiversidade do Estado de São Paulo - BIOTASP". O bioma escolhido para este estudo é a mata atlântica do sudeste do Brasil, no Parque Estadual Intervales (PEI).

Este objetivo será alcançado através das seguintes etapas:

a) Caracterização da dieta frugívora de vertebrados em diferentes períodos do ano.

  • b) Determinação dos padrões morfológicos, fenológicos e químicos dos recursos utilizados pelos vertebrados frugívoros.

    c) Determinação dos padrões morfológicos e comportamentais dos vertebrados frugívoros, bem como suas variações espaço-temporais no uso de recursos.

    d) Elaboração de matrizes de interações entre plantas e vertebrados frugívoros nas diferentes comunidades estudadas, examinando os padrões ecológico-evolutivos que definem a sua organização e estrutura.

    e) Definição de espécies de animais e plantas que desempenhem papéis-chaves nas comunidades estudadas, pela participação em um número significativo de interações, e que possam ser utilizadas como espécies-indicadoras em estudos de biodiversidade e conservação.

    f) Distinção dos diferentes níveis de biodiversidade entre comunidades, a partir de índices que reflitam a riqueza e complexidade das interações frugívoros-plantas, tais como "conectância" e "dependência".

    g) Construção de modelos teóricos para as relações de conectância em comunidades naturais, produzindo predições testáveis nas comunidades a serem estudadas sobre as relações entre filogenia, biodiversidade, complexidade e estabilidade.

  • O projeto terá a duração de quatro anos. Serão estudadas três áreas ao longo do gradiente altitudinal que ocorre no PEI. Cada área será visitada pelos diferentes grupos de trabalho que compõem a equipe do projeto, com frequência variando de mensal a semestral, durante dois anos consecutivos (duas delas simultaneamente). Os dados sobre a vegetação consistirão de coleta e identificação de plantas zoocóricas, características do habitat, morfometria de frutos e sementes, registro fenológico, análises químicas dos nutrientes e compostos secundários dos frutos. Os dados sobre os frugívoros consistirão de observações do comportamento alimentar, coleta de amostras de fezes em redes de nylon (para aves e morcegos) e ao longo de trilhas no ambiente e armadilhas (outros mamíferos), descrição e medida das características morfológicas associadas à frugivoria (obtidas em campo ou em museus). Como aves e morcegos são os mais importantes dispersores de sementes em sistemas tropicais, e suas técnicas de estudo e amostragem permitem comparações múltiplas numa mesma e entre diferentes comunidades, ambos os grupos serão usados como componentes-chaves na análise global das comunidades de frugívoros nas áreas estudadas.

    As matrizes de interações permitirão correlacionar as variáveis morfométricas (massa dos frutos e sementes, número de sementes por fruto, largura do bico, peso do corpo, etc) e químio-fisiológicas (padrão de deposição de sementes nas fezes, conteúdo energético e nutritivo dos frutos) das espécies de plantas zoocóricas e seus agentes dispersores. Os valores obtidos para a interação de pares de espécies, guildas alimentares ou mesmo para a comunidade completa de frugívoros, serão comparados e utilizados para estimar a conectância entre comunidades e sua relação com determinantes morfológicas, ecológicas e filogenéticas, resultando em informação básica que poderá ser aplicada a programas de conservação e manejo. Todos os dados serão integrados a sistemas de informação geográfica.


    Summary


    Equipe


    Local


    Interações


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