Birrefringências
Retardo óptico (RO) devido à birrefringência
(B), a birrefringênica do colágeno é expressa
pela diferença dos dois índices de refração;
B = ne–
no , onde ne
é o índice de refração do raio extraordinário
(no caso das fibras de colágeno
é a direção paralela ao eixo da fibra, no
é o índice de refração do raio ordinário,
cuja direção de propagação é
perpendicular ao eixo da fibra (índices de refração
são causados pela polarizabilidade dos electrons). Uma
frente fotônica polarizada propaga-se no interior de uma
amostra birrefringente biaxial em direções perpendiculares
que ao emergirem do objeto com uma diferença de fase, entram,
então em interação interferencial, do que
resulta o brilho visível da birrefringência. Este
brilho corresponde ao retardo óptico OR = (ne–
no) .e ou B.e (onde, e
= espessura). Ou seja, o RO varia com a espessura dos corte ou
a concentração de material. Já, a birrefringência
textural ou de forma expressa-se pela simples equação
BT
= ne2
– no2
(considere-se que n2
= ε,
detalhes adiante).
Para uma proteína sem cor visível,
a principal contribuição para o índice de
refração e/ou o RO na passagem da luz é dada
pela transição
π
– π*
da ligação peptídica planar que liga os amino-ácidos.
Para a luz polarizada visível e infravermelha próxima
paralela à transição do dipolo, cerca de
150° do eixo N – C no plano N–C=O, o RO destas
ligações é proporcional à sua densidade
por superfície.
RO =S.
e2/ 2εomω02
= Sx2.510-15 pm.
S e´o número de ligações peptídicas/cm2
e, m
são a carga e a massa do eléctron, εo
é a permitividade (constante dielétrica) do espaço
e ωo
é a ressonância da frequência
deste oscilador electrônico (Landowne, 1985; Cantor and
Schimmel, 1980). Em suma, a birrefringência intrinseca ou
cristalina é determinada pela orientação
e força (potência) de todas as transições
de eléctrons das moléculas que compõem o
filamento.
Birrefringência textural (BT),
de forma, (algumas vezes também chamada de estrutural)
depende da geometria das moléculas, de que estas sejam
menores ou iguais ao comprimento de onda usado na análise,
da diferença de seus índices de refração
com respeito ao seu meio, ou ao índice de outras moléculas
que componham um corpo misto, e da fração proporcional
com que entrem na composição do objeto (no caso,
considere-se a CT como um compósito) e
das distâncias que as separe, também equivale a dizer
que seja compatível com os comprimentos de onda. Lembre-se
que a molécula de colágeno é nanométrica,
anisodiamétrica e quiral; detalhes em Vidal (1980; 1986,
2003b). Neste ponto, será útil dizer que o exposto
até aqui mostra que as fibras de colágeno têm
uma anisotropia de constantes dielétricas (ε
= n2)
também exibem uma periodicidade microscópica (ou
seja, teriam propriedades fotônicas, Vidal, 2003a).
Na atualidade, os estudos e aplicações de estruturas
que têm BT
assumem muita relevância, vejam-se os trabalhos que procuram
construir estruturas até metálicas cujos princípios
arquiteturais obedecem às caracteristicas e propriedades
aqui descritas, (Tsai et al.2006)
As bases para este conhecimento foram estabelecidas desde 1912,
leia-se em Schmidt, 1937, Schmidt e Keil, 1958,“ Formdoppelbrechung
wird, nach Wiener (1912), erzeugt durch einen Mischkörper
, der aus zwei geordeneten Komponenten besteht , die anysodiametrische
Form und verschiedene Brechzahl besitzen und derem Durchmesser
und Abstände (wenigstens in einer Dimension) klein sind im
Vergleich zur Lichtwellenlänge sind.” É importante
trazer-se a tona que CT e tendões são
estruturas complexas com mais de dois componentes.
Detalhes encontram-se nos estudos detalhados de curvas de birrefringência
de forma permitiram estabelecer diferenças entre tendões,
colágeno tipo I, de cartilagens, colágeno tipo II
(Vidal, 1977; Vidal e Vilarta, 1988) sendo que tal gênero
de estudos é confirmado por pesquisas atuais (citando escola
de Vidal) usando “polarization-sensitivite optical coherence
tomography” (OS-OCT) (Park et al. 2006).
Dicroismo
Linear (DL)
O dicroísmo linear (DL) é a anisotropia
óptica devida a absorbância seletiva da luz polarizada
por grupos cromofóricos orientados, fornece informações
precisas e simples de transições eletrônicas
dos elétrons de grupos cromofóricos orientados,
de acordo com Nordén, 1978, “..the absorption being
maximum when the light vector is polarized parallel to the transition
moment and zero when perpendicular to it”. DL,
pode, então, fornecer : 1- “directions of transition
moments when the molecule orientation is known, ie. Spectroscopic
application” ou 2- “information of molecule orientation
when the transition moments are known, i.e. structural application”.
Nas próprias afirmações de Nordén,
1978: “Linear dichroism is related in a very simple way
to well separated quantal transitions while birefringence is a
complicated average over all transitions in the molecule”
Em realidade, birrefringência e DL contêm
as mesmas informações básicas e estão
relacionadas por equações de dispersão (Vê-se
desde logo que a birrefringência tem um caráter estatístico).
No caso específico do colágeno, não há
DL na amplitude dos comprimentos de onda visíveis,
somente no ultravioleta ? em torno de 200 – 220 nm, pelos
eléctorns p – p* da ligação peptídica
planar que liga os amino-ácidos (as mesmas que originam
a Birrefringência). Assim, para obter-se o fenômeno
usa-se de um evento extrínsico ao colágeno complexando-o
com corante azoicos sulfonados dicroicos (Vidal, 1970, 1980, Vidal
e Mello, 2005). A complexação de Ponceau SS (que
também é fluorescente) com feixes de colágeno
gera uma estrutura supramolecular dotada de capacidade de polarizar
uma frente de onda (Vidal e Mello, 2005), fenômeno que será
relevante na avaliação da ordem molecular e seu
reflexo nas propriedades físicas das CT.
Detalhes sobre as medidas e expressões matemáticas
sobre DL serão apresentadas em Material
e Métodos.
Os detalhes citados aqui para enfatizar que estas propriedades
ópticas estão de acordo com o estado da arte no
campo da óptica não linear e da fotônica,
nas pesquisas modernas (detalhes na futura Discussão),
e que birrefringências e determinação de ordem
molecular são objeto de milhares de publicações
especialmente no campo das ciências dos materiais (dados
comprobatórios desta afirmação podem ser
obtidos entrando-se no PubMed ou Web of Science usando os título:
“birefringence e dichroism ou linear dichroism”).
A Birrefringência de Forma na Atualidade e a minha
Contribuição
Benedicto de Campos Vidal
O foco da exposição é o fenômeno óptico
conhecido como Birrefringência de Forma ou textural que
vem sendo atualmente objeto de extensivos estudos na física
moderna. Pois bem, antecedi-me a estes estudos, na sistematização
de sua prática e em suas aplicações biomédicas.
A leitura de um resumo que devo apresentar em Congressos a serem
realizados proximamente, é aconselhável.
O propósito da seguinte exposição de idéias
e fatos é simplesmente mostrar que os meus trabalhos e
seu ineditismo não se confinaram no espaço–tempo
mas estenderam-se por 43 anos. Hoje, apesar dos meus 83 anos e
de ser Prof. Emérito e ser citado mais de 900 vezes, não
descanso e com satisfação colho os frutos de uma
atividade inédita, continuada, não só no
Brasil.
A birrefringência de forma é uma das propriedades
anisotrópicas ópticas, ela depende (é originada
em) de estruturas nas quais pelo menos um dos componentes tenha
dimensões menores (compatíveis com) do que comprimento
de onda usado no estudo, é necessário que a estrutura
tenha periodicidade e que haja um arranjo ordenado de seus componentes.
A colocação das pesquisas sobre a Birrefringência
de Forma
(∆F
= ne2
– no2;
n2
= € ) dentro
de um contexto científico amplo obedecerá aos seguintes
tópicos:
1- Conexões dentro do campo da física aplicada.
Referências recomendadas em anexo.
2 - Conexões no campo abrangente de problemas. Biomédicos,minha
contribuição.
3 - Desenvolvimentos em nanotecnologia para uso futuro inspirados
em estruturas ricas em colágeno do Tipo I. Desenvolvimento
futuro para aplicações biomédicas.
1 -Um dos aspectos até práticos sobre a nanotecnologia
vem sendo o foco da física contemporânea na birrefringência
de forma (∆F).
Estruturas fundamentadas em ∆F
para uso em optoelectrônica ou estruturas ópticas
integradas (“Integrated Optical devices”) são
exemplos encontrados na literatura especializada. Filmes porosos
de sílica vêm sendo produzidos com alguns propósitos,
realizando uma nanogravação em vidro de sílica
usando um modelo de BT,
tal que seja produzida uma nanozona periódica dotada de
alta birreringência de forma, ∆F
de filmes porosos de sílica são produzidos por evaporação
adequada tal que possam criar ou planejar estruturas ópticas
para aplicações específicas. Efeitos óptico-eletrônicos
são obtidos com a produção desses filmes
para serem usados v.g. em comunicação. BT
tem sido estudada e aplicada até em ferrofluidos.
Exemplo muito expressivo é a construção de
uma micro-engrenagem construída sobre os princípios
da ∆F.
A ∆F
produz um momento fotônico que movimenta a micro-engrenagem.
Cristais fotônicos com ∆F
também são citados como sensores multiparamétricos.
A modulação precisa em fibras ópticas cristalinas
depende de ∆F.
2- No campo das conexões no terreno biomédico devo,
por razões históricas, fixar-me exatamente nas minhas
contribuições que têm sido consideradas pioneiras
por autores fora do nosso país.
Com a publicação feita em 1965 introduzi o uso sistemático
de meios de embebição, imersão, baseado em
H2O, soluções aquosas de glicerina e glicerina PA,
óleos minerais especiais, inertes, para estudo de BT
a fresco (sem qualquer tratamento prévio) de feixes de
colágeno. Esta publicação serviu de base
para estudo quantitativos de geração de segunda
harmônica (“SHG de second harmonic generation) de
feixes de colágeno) resultados dessas pesquisas foram feitas
em 1981 e 1982, i.e. 17 e 18 anos após a minha publicação
[Roth & Freund, Biopolymers 20: 1271 – 1290 (1981) Roth
& Freund, J. Appl. Cryst. 15: 71 – 78, (1982)]. Tais
achados comprovaram a não linearidade óptica dos
feixes de colágeno. Até o presente temos continuada
e historicamente publicado e orientado trabalhos, com ineditismo,
sobre birrefringência de forma. Segue uma lista das principais
publicações:
Vidal, B.C., 1965. The part played by the mucopolysacharides in
the form birefringence of collagen” Protoplasma 59, 472
– 479.
B.C. Vidal. 1977. Acid glycosaminoglycans and endochondral ossification:
microspectrophotometric evaluation and macromolecular orientation.
Cell. mol. Biol. 22: 45 – 64.
Pela primeira vez se mostra pela birrefringência de forma
as diferenças de anisotropia entre colágeno tipo
I e tipo II, entre outra contribuições importantes
sobe a birrefringência de forma.
Mello, M.L.S. and Vidal, B.C. 1972. Evaluation of dichroism and
anomalous dispersion of the birefringence on collagen subjected
to metal impregnations. Ann. Histochim. 17: 333 – 340.
Vidal, B.C., Mello, M.L.S., Godo, C., Caseiro F°, A.C. and
Abujadi, J.M. 1975. Anisotropic properties of silver plus gold-impregnated
collagen bundles: ADB and birefringence curves. An. Histochim.
20: 15-26. Neste trabalho, pelos calculos de birrefringência
de forma e da dispersão anômala da birrefringência
(ADB que é uma óptica não linear), foi possível
propor a distribuição dos cristalitos de Ag, ordenadamente
arranjado nas fibras de colágeno. Abaixo é citado
o trabalho feito com TEM mostrando o tamanho nano- métrico
da Ag. É importante citar que os três últimos
co-autores eram alunos do primeiro ano da FCM-Unicamp que, como
estagiários, tomaram parte e aprenderam a importância
das técnicas e o seu conteúdo teórico para
uso em diagnóstico.
B.C. Vidal and J. Joazeiro. 2002. electron microscopic determination
of silver incorporation in collagen fibers as a model of organic-metal
chiral supramolecular structure with optical anisotropic properties.
Microm 33: 507 – 509. Este trabalho super inédito
conecta-se com o anteriormente citado Vidal et al. 1975.
Os trabalhos sobre prata (Vidal et al. 1975 e Vidal & Joazeiro,
2002, foram citados agora - 2007 com detalhes confirmando nossos
achados.
B.C. VIDAL, 2003. Image analysis of linear dichroism in collagen-nano-silver
complexes. Microscopy and Analysis (UK), pp.21-23. Este trabalho
completa o ciclo sobre a complexação de Ag. Com
colágeno e permitiu a conclusão de que o complexo
tem propriedades ópticas não lineares e fotônicas.
O que para estruturas biológicas é inédito.
As citações concernentes a Ag não obedeceram
uma ordem cronológica, como foi o sentido geral, pois a
intenção foi mostrar suas conexões.
Vidal, B.C. 1980. The part played by the proteoglycans and structural
glycoproteinsin the macromolecular orientation of collagen bundles.
Cell. mol. Biol. 26: 415 – 421.
VIDAL, B.C., 1986. Evaluation of carbohydrate role in the molecular
order of collagen bundles: microphotometric measurements of textural
birefringence. Cell. Mol. Biol. 32: 527–535. Estes dois
trabalhos estudam pormenorizadamente o fenômeno de birrefringência
de forma e suas aplicações aos problemas de ordem
molecular e estado agregacional em feixes de colágeno.
Traz também uma contribuição metodológica.
B.C. Vidal and R. Vilarta. 1988. Articular cartilage: Collagen
II – proteoglycan interactions. Availability of reactive
groups. Variations in birefringence and differencesas compared
to collagen I, Acta Histochem. 83: 1898 – 205.
Vilarta, R. and Vidal, B.C. 1989. Anisotropic and biomechamical
properties properties modified by execise and denervations: Aggregation
and macromolecular order in collagen bundles. Matrix 9: 55 -61.
É um trabalho muito citado, seu título diz tudo.
[Vasanthan (Appl. Spectrosc. 59: 897 – 903 (2005) usou a
determinação da orientação molecular
em fibras de poliamida submetidas a tensão, medidas por
meio de birrefringência comparadas com difração
de RX, bom foi a birrefringência].
B.C. Vidal. 2003. Image analysis of tendon helical superstructure
using interference and polarized light microscopy. Micron 34;
423 – 432. Aquí é diagnosticado um tendão
como um objeto quiral, e como um cristal líquido tipo TGB,
ou seja Twisted Grain Boundary. O trabalho vem sendo bem citado.
Ribeiro J.F; dos Anjos E.H.M; Mello M.L.S; Vidal, B.C. 2013. Skin collagen fibers molecular order: a pattern of distributional fiber orientation as assessed by optical anisotropy and image analysis. http://dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0054724
Recentemente tenho trabalhos recém publicados nesta área,
aceito para publicação e ainda outros sob a análise
de assessores, em revistas internacionais com índice de
impacto de 2,8 a 1,34.
Não estão citados aqui, com detalhes, os estudos
de birrefringência de forma de queratinas e de celulose.
3 - Também não estão levadas em consideração,
aqui, as minhas contribuições específicas
na linha de colágeno e de suas aplicações
em medicina.
Antevejo aplicações importantes para os estudos
nessa linha de pesquisas. Estrutura de feixes de colágeno
do tipo I como inspiração para construção
de estruturas com birefringência de forma.
Dar continuidade às observações que já
fiz de que colágeno cristalizado conduz luz de laser como
se fosse fibra de vidro.
Aplicação de laser terapêutico, mas plenamente
polarizado.
Em aplicações médicas, relacionar a estrutura
com ordem molecular para obtenção de melhores efeitos.
Já defendida uma tese de doutoramento prova a efetividade
do laser polarizado em induzir efeitos notáveis em estruturas
nas quais compatibilizou-se orientação molecular
do tecido com o vetor elétrico do lazer polarizado (Tese
orientada por Marta ribeiro e por mim).
Com respeito à córnea os estudos sobre as sua propriedades
ópticas tenho orientado e participado ativa e teóricamente
e teórica em trabalhos que já geraram publicações
em revistas de impacto internacional, assim, sobre córnea
humana figurão como o último autor em trabalho publicado
na Molecular Vision v. 13: 142 – 150 (2007), índice
de impacto 2,239. O trabalho sobre a influência do diabetes
está aceito e no prelo na Vision, impacto 4.
Por convite, aceitamos publicar no livro Biopolimers, a ser editado
nos EEUU, dois capítulos sobre os temas de propriedades
anisotrópicas ópticas em córnea e em tendões
que são produto de desenvolvimento de teses já defendidas.
As
figuras a seguir ilustram a potencialidade da análise de
polímeros e biopolímeros, com microscopia de polarização.
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