EVOLUÇÃO EM TRABALHOS



ORDEM MOLECULAR COMO LINHA DE PESQUISA:
PROTEOGLICANOS E COLÁGENO

As considerações que se seguem mostram que o meu trabalho na linha de pesquisa sobre ordem molecular tem uma longa história (aproximadamente 46 anos) na qual pode ser percebida a minha atuação teleológica, obediente aos princípios básicos epistemológicos e dedicada a produzir conhecimento não só nesse campo mas também na detecção dos estados de agregação dessas macromoléculas e do desenvolvimento da metodologia das pesquisas envolvidas neste terreno.
Assim minhas contribuições mais significativas nesta área passam a serem citadas:

Vidal, B.C., 1963. Pleochroism in tendon and its bearing to acid mucopolysaccharides. Protoplasma, 56: 529-536. Neste trabalho é concluído que as cadeias glicânicas são paralelas às de colágeno. Tal arranjo molecular optimiza as interações eletrostáticas entre as cargas positivas do colágeno com as negativas das glicanas ácidas. Os resultados e idéias deste trabalho foram confirmados por métodos bioquímicos (Mathews, M.B. 1965. Biochem. J., 96: 710-716; The Connective Tissue - Willians & Willians Company, 1967) e citados por Jackson e Bentley no Treatise on Collagen (vol. 2, p. 200). Anteriormente só haviam suspeitas a respeito da ordem molecular das glicanas ácidas (GAGA). Esta foi a primeira publicação a descrever e a propor consequências estruturais e fisiológicas.

Vidal, B.C., 1964. The part played by the mucopolysaccharides in the form birefringence of collagen. Protoplasma, 59: 472-478. Foi um trabalho realmente avançado para seu tempo. Tanto é que serviu de base metodológica para modernos estudos de ordem molecular em tendões por meio de sofisticada metodologia (Roth, S. & Freund, Biopolymers, 1981, 20: 1271 - 1290 e J. Appl. Cryst, 1982 15: 71-78, ). Neste trabalho os autores chegam às mesmas conclusões. Relevante ressaltar que propriedades anisotrópicas ópticas foram reconhecidas como tendo importantes consequências biológicas (Piez, K.A. 1984. Molecular and Aggregate Structures of the Collagens, in Extracellular Matriz Biochemistry, ed. Pìez, K.A. & Reddi, A.H.). (Este autor cita Roth & Freund, referidos acima). As vantagens que foram introduzidas pela minha metodologia foram: trabalhar com tecidos frescos, in natura; poder fazer remoção enzimática das GAGAs e introduzir meios de embebição apropriados; ao mesmo tempo ou pouco mais tarde bioquímicos chegaram às mesmas conclusões em termos de repercussão e aplicações da metodologia e da teoria desenvolvida. Pode ainda ser citado o trabalho de Whitaker et al. que desenvolveram estudo sobre cordas tendíneas do coração no caso de infiltração de proteoglicanos e de prolapsos de mitral, baseando-se em alguns de meus trabalhos e chegando a importantes conclusões a respeito das alterações de componentes e de arranjos moleculares nesta patologia (Brit. Heart J., 57: 264-269, 1987).
Mais ainda, Cuccia et al. (2009) abordando questões científicas atuais sobre a quantificação e mapeamento da propriedades ópticas de tecidos, usando modernos meios para obter imagens por processos de modulação e apontam até para as aplicações clínicas; nesta publicação os autores citam meu trabalho de (1965, algumas vezes erradamente 1964) (citação n° 31 dos autores), trabalho pioneiro em que os cálculos da birrefringênciade de forma foram sistematizados e válidos de forma inédita até a modernidade. Veja-se bem, a citação é feita 45 anos (!) após a publicação do trabalho. Mas ainda, ao lado da citação do meu trabalho, figura a citação de n° 32 de Roth and Freund (1981) que também cita o mesmo trabalho de Vidal (1965). O que se deve notar é que o excelente trabalho de Roth and Freund (1981) versa sobre as propriedades ópticas não lineares dos feixes de colágeno, eles usaram os recursos da "Second Harmonic Regeneration" nesse estudo, acontece que nesta pesquisa os autores usaram basicamente as minhas proposições sobre birrefringência de forma citando-me textualmente; mais ainda os mesmos autores voltam a publicar a matéria, um ano depois, e mais uma vez baseiam-se no meu trabalho de 1965.
Também merece destaque o fato de que trabalho sobre ordem molecular e estrutura de bainhas de mielina publicado em 1980 mereceu em 2007 e 2008, recentemente, citações marcantes.
Na atualidade existe uma malha de conhecimentos estabelecendo as relações entre fotônica e birrefringência de forma, em campo em que continuo sendo pioneiro, haja vista para as minhas novas publicações.

Trabalhos que publiquei posteriormente, utilizando medidas cada vez mais acuradas de birrefringência de forma e usando microespectrofotometria, não só confirmaram os resultados anteriores como permitiram detectar o papel dos resíduos de carboidratos na orientação molecular das fibras de colágeno (Vejam-se: The part played by proteoglicans and structural glycoproteins in the macromolecular orientation of collagen bundles. Cell. mol. Biol., 26: 415-421, 1980 e Evaluation of the carbohydrate role in the molecular order of collagen bundles: Microphotometric measurements of textural birefringence. Cell. mol. Biol. 32: 527-535, 1986). O que estes trabalhos apresentaram de inédito foi o emprego sistemático de medidas de birrefringência de forma e intrínseca (cristalina) para que a ordenação molecular pudesse ser deduzida diretamente das propriedades ópticas devidas às diferenças de índice de refração.
Baseando-se em observação anterior (Vidal, B.C. & Mello, 1970. Histochemie, 23: 176-179), foi desenvolvida pesquisa para mostrar que a dispersão anômala da birrefringência com ponto de transição junto ao máximo do dicroísmo linear in situ pode ser comparado ao efeito Cotton em solução e informar a presença de geometrias moleculares em hélice. A aplicação destes princípios em meticulosa e extensa pesquisa culminou na determinação de que as cadeias de glicanas ácidas apresentam, sob algumas condições, uma geometria em hélice (Veja-se Mello & Vidal, 1973. Annls. Histochim., 18: 103-122).
A pesquisa sobre cartilagem durante a ossificação endocrondral, que exemplifica bem a aplicação de toda uma metodologia quantitativa acurada no estudo dos diferentes níveis de organização molecular da matriz extracelular nas diferentes regiões epifisárias, foi publicada em Cell. mol. Biol., 22: 45-64, 1977.
Do ponto de vista epistemológico senti logo a necessidade de desenvolver e de ter sempre em mente uma teoria em que a organização e a hierarquia dos componentes da matriz extracelular figurassem como ponto importante. Assim publiquei parte da minha Tese de Livre Docência (Vidal, 1966. Macromolecular desorientation in detached tendons. Protoplasma, 62: 121-123), na qual consta:

"Depending on changes in the functional stimuli of mechanical and biochemical nature, local transformations take place (metabolic changes, concentration of the mucopolysaccharides and collagen precursors) acting in the systems as a feedback device. Such a device would work on the factors of entry into the fibroblastic system establishing modifications which will keep the homeostasis"
Considero esta minha proposição o centro de uma teoria de regulagem e controle, tipo biocibernética, funcionando ao menos localmente. Desta data em diante tenho melhorado esta hipótese cujo valor heurístico tem se confirmado não só nos meus trabalhos mas também em publicações internacionais de outros autores. Neste contexto desenvolvi a teoria de que o colágeno seria um verdadeiro transductor, baseado em suas propriedades piezoelétricas que dependem, em última análise, do estado de agregação e ordem molecular dos sistemas biocompostos dos quais esta glicoproteína toma parte.
Atualmente a concepção de que a ordenação molecular é presente no citoesqueleto e na matriz extracelular já é comum e o fato em si é relacionado com as interações citoesqueleto-matriz extracelular estabelecendo correlações e interpretações no campo das funções celulares e da matriz extracelular.
Então, só para citar livros de texto atuais, encontram-se no Molecular Biology of the Cell (Alberts et al, 2002 - Garland Publ. Cia.) as seguintes considerações:

"...the high degree of order within the cells can be transmitted to the extracellular matrix through the orientation of the macromolecules that cells secrete".
e que:
"...an ordered extracellular matrix influences the organization and behavior of the cells it contains".

No que se refere às estruturas ósteo-cartilaginosas, Trelstad e Birk, no livro The Role of Extracellular Matrix in Development (Alan R. Liss Inc., NY, 1984, p. 519-523), estabelecem, incansavelmente, relações entre níveis de ordem celular e matriz extracelular como fatores importantes na arquitetura tecidual e nas propriedades piezoelétricas.
Se internacionalmente fui o primeiro a propor a mais provável direção das proteoglicanas através de observações e medidas acuradas de anisotropias ópticas, com reais contribuições no campo das medidas de birrefringência, in situ, no Brasil então a liderança neste terreno não pode ser-me contestada.
Não estão aqui relacionados os trabalhos sobre as propriedades anisotrópicas de DNA e de seus complexos com proteínas que também foram pioneiros no nosso País.
Esta exposição tem por finalidade acompanhar o meu Curriculum Vitae e revela assim a minha satisfação em ter desenvolvido um espírito combativo para vencer as dificuldades impostas pela incompreensão, preconceito, política e oportunismo dos que têm detido as vantagens e o poder nas mãos.

Mielina: Novas Interpretações Morfofuncionais sobre Bainha de Mielina baseadas em Birrefringência de Forma e Extensão de suas Funcionalidades